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UM OLHAR SOBRE MULHERES E DROGAS PSICOATIVAS

Nos últimos anos, mulheres tem se equiparado aos homens quanto ao uso de drogas psicoativas. No entanto, as razões para isso são bem diferentes.


Por MIGUEL MANTOVANI GIBELI e KETLYN ROSATTO DA SILVA

Estudantes de Farmácia - 8º Semestre

Universidade Anhembi-Morumbi


Não é novidade que o uso abusivo de drogas psicoativas vem se tornando tão pandêmico quanto a catástrofe viral da COVID-19, mas como a última, seus números não perdem a capacidade de impressionar. Em apenas 8 anos, o mundo viu o número de usuários destas substâncias aumentar em 68 milhões, o que resulta em uma assustadora média de 7,6 milhões por ano. Relatórios internacionais como o World Drug Report, de autoria da ONU (Organização das Nações Unidas), revelam ainda que 13% destes indivíduos devem enfrentar a dependência ou sofrer desordens diversas que exigem a busca por tratamentos, colocando sua saúde em risco. E engana-se quem pensa que a culpa é só das drogas ilícitas ou recreativas. Maconha, álcool e tabaco, de longe as mais utilizadas, são seguidas por tranquilizantes e sedativos, medicamentos que atuam no sistema nervoso central e, como qualquer psicofármaco, alteram em algum grau o comportamento de quem os utiliza.


Engana-se também quem elege os homens como protagonistas deste cenário. Mudanças socioculturais e conquistas políticas permitem, hoje, que a mulher tenha maior liberdade de escolha em diversos âmbitos pessoais, o que inclui formas de entretenimento e cuidados com a saúde. Antes relegadas a um patamar distante, atravessam cada vez mais a barreira que (ainda) as separa de indivíduos do gênero masculino, muitas vezes ultrapassando-os quando se trata do uso de classes específicas de drogas. Os benzodiazepínicos, por exemplo, são a classe de medicamentos mais utilizada por mulheres em 40 países, figurando também em primeiro lugar no Brasil como droga de escolha para o tratamento de distúrbios psíquicos. Aqui, a taxa de uso de psicotrópicos é três vezes maior entre as mulheres, e seus eventos adversos e interações com outros fármacos são as principais causas de hospitalização. Opiáceos, orexígenos e medicamentos não-prescritos também são mais utilizados pelo gênero, o que demonstra um perfil de uso, no mínimo, curioso.

 
O papel do profissional da saúde é garantir tratamento às mulheres e conscientizar aqueles que as acompanham
 

De acordo com alguns estudos, o que ajuda a explicar a prevalência das mulheres como usuárias de psicofármacos medicamentosos é o objetivo com o qual o fazem, que difere bastante dos homens. Enquanto estes identificam nas drogas um pretexto de sociabilidade, consumindo principalmente substâncias recreativas (lícitas ou não), as mulheres as associam à solução de preocupações cotidianas, quadros de ansiedade e falta de suporte emocional, o que estimula a busca pela “pílula milagrosa”, residente perpétua do imaginário popular. Mas a pista crucial vem à tona quando analisamos o modo de uso: enquanto elas consomem drogas sozinhas e em casa, longe de tudo e de todos, os homens normalmente o fazem acompanhados e em festas ou bares, sem qualquer preocupação. Torna-se quase desnecessário, portanto, ressaltar que questões sociais influem diretamente na experiência feminina com estas substâncias, e talvez a urgente missão dos profissionais da saúde seja a de, em sinergia, ampliar o espaço de expressão da mulher enquanto membro da sociedade e garantir não só seu acesso a tratamentos responsáveis como a conscientização daqueles que as acompanham em suas jornadas.

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