UM OLHAR SOBRE MULHERES E DROGAS PSICOATIVAS
- cim.uam
- 8 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
Nos últimos anos, mulheres tem se equiparado aos homens quanto ao uso de drogas psicoativas. No entanto, as razões para isso são bem diferentes.
Por MIGUEL MANTOVANI GIBELI e KETLYN ROSATTO DA SILVA
Estudantes de Farmácia - 8º Semestre
Universidade Anhembi-Morumbi

Não é novidade que o uso abusivo de drogas psicoativas vem se tornando tão pandêmico quanto a catástrofe viral da COVID-19, mas como a última, seus números não perdem a capacidade de impressionar. Em apenas 8 anos, o mundo viu o número de usuários destas substâncias aumentar em 68 milhões, o que resulta em uma assustadora média de 7,6 milhões por ano. Relatórios internacionais como o World Drug Report, de autoria da ONU (Organização das Nações Unidas), revelam ainda que 13% destes indivíduos devem enfrentar a dependência ou sofrer desordens diversas que exigem a busca por tratamentos, colocando sua saúde em risco. E engana-se quem pensa que a culpa é só das drogas ilícitas ou recreativas. Maconha, álcool e tabaco, de longe as mais utilizadas, são seguidas por tranquilizantes e sedativos, medicamentos que atuam no sistema nervoso central e, como qualquer psicofármaco, alteram em algum grau o comportamento de quem os utiliza.
Engana-se também quem elege os homens como protagonistas deste cenário. Mudanças socioculturais e conquistas políticas permitem, hoje, que a mulher tenha maior liberdade de escolha em diversos âmbitos pessoais, o que inclui formas de entretenimento e cuidados com a saúde. Antes relegadas a um patamar distante, atravessam cada vez mais a barreira que (ainda) as separa de indivíduos do gênero masculino, muitas vezes ultrapassando-os quando se trata do uso de classes específicas de drogas. Os benzodiazepínicos, por exemplo, são a classe de medicamentos mais utilizada por mulheres em 40 países, figurando também em primeiro lugar no Brasil como droga de escolha para o tratamento de distúrbios psíquicos. Aqui, a taxa de uso de psicotrópicos é três vezes maior entre as mulheres, e seus eventos adversos e interações com outros fármacos são as principais causas de hospitalização. Opiáceos, orexígenos e medicamentos não-prescritos também são mais utilizados pelo gênero, o que demonstra um perfil de uso, no mínimo, curioso.
O papel do profissional da saúde é garantir tratamento às mulheres e conscientizar aqueles que as acompanham
De acordo com alguns estudos, o que ajuda a explicar a prevalência das mulheres como usuárias de psicofármacos medicamentosos é o objetivo com o qual o fazem, que difere bastante dos homens. Enquanto estes identificam nas drogas um pretexto de sociabilidade, consumindo principalmente substâncias recreativas (lícitas ou não), as mulheres as associam à solução de preocupações cotidianas, quadros de ansiedade e falta de suporte emocional, o que estimula a busca pela “pílula milagrosa”, residente perpétua do imaginário popular. Mas a pista crucial vem à tona quando analisamos o modo de uso: enquanto elas consomem drogas sozinhas e em casa, longe de tudo e de todos, os homens normalmente o fazem acompanhados e em festas ou bares, sem qualquer preocupação. Torna-se quase desnecessário, portanto, ressaltar que questões sociais influem diretamente na experiência feminina com estas substâncias, e talvez a urgente missão dos profissionais da saúde seja a de, em sinergia, ampliar o espaço de expressão da mulher enquanto membro da sociedade e garantir não só seu acesso a tratamentos responsáveis como a conscientização daqueles que as acompanham em suas jornadas.
Comments